domingo, 11 de outubro de 2015

O bom da TV digital, mesmo quando não se vê - Histórias de Rio Verde

Casal de cegos acessa pela primeira vez o sinal digital em casa 

"O que é que muda com a TV digital? É isso que eu não entendi até hoje. É a imagem, é?", essa foi a primeira pergunta de Marcela Poliana Martins – cega desde os 3 anos de idade – para nós, da Coordenação de Mobilização Local da EAD, que resolvemos ir até a sua casa acompanhar a instalação de um conversor em sua TV analógica. Respondemos: "– Não é a imagem somente, vocês vão poder escutar muito melhor a partir de agora". Depois vieram outras perguntas, do tipo: Por que o SBT não está pegando bem no analógico? O rapaz daí da frente tem duas antenas, será que está dando interferência em nossa TV? Quantos e quais são os canais da TV digital de Rio Verde? Tem vários tipos de conversores?  (Eles ficaram sabendo que o camelódromo da cidade vende conversores mais baratos e tinham dúvidas se eram realmente confiáveis).

Marcela é casada com Elvis da Silva, que perdeu toda a visão quando tinha 23 anos. O casal é recém-formado em Administração de Empresas pelo Instituto Federal e, como está desempregado, entre as atividades cotidianas que realizam, estão: praticar exercícios na academia e frequentar aulas de ecoterapia e de braile. Para passar o tempo quando estão em casa, eles acompanham programas de rádio e de TV. E como no dia 29 de novembro Rio Verde passará pelo desligamento do sinal analógico, Marcela e Elvis tiveram que migrar para o digital (mesmo sem entender bem por que deveriam fazer isso), tudo para não ficar sem TV, uma companhia que para eles é essencial. Fomos visitá-los para esclarecer as suas dúvidas e para falar sobre o que a TV digital tem realmente de melhor.

Quando tiramos as suas dúvidas pedimos para eles contarem um pouco sobre os programas de televisão de que mais gostam. Elvis disse que os telejornais e as transmissões esportivas são os seus prediletos e que prefere ouvir jornais pela TV. "O jornal na TV é mais completo do que no rádio, no rádio é muito resumido. E o futebol também", ressaltou. Dentre os os jornais de que mais gosta, estão: o Jornal Nacional, o Jornal Hoje e os jornais locais da TV Anhanguera. Marcela disse que não perde a novela Os Dez Mandamentos e que estava muito preocupada em não conseguir adquirir o conversor para continuar assistindo. "Essa novela é boa demais, eu não perco. Eu não queria ficar sem a novela", comentou. Ela nos contou que, por medo de não conseguir migrar para o digital, preferiu não assistir à reprise da novela Caminho das Índias – de que gosta muito, e deixou de assistir à Globo, para que não sentisse falta quando o sinal analógico fosse desligado.

O casal nos contou que o problema de apenas ter uma televisão é que acabam disputando os programas preferidos. "Dia de domingo tem futebol às 4h e, depois, Programa Sílvio Santos, aí ele me impede de assistir ao programa de que eu mais gosto, que é o do Rodrigo Faro" (risos). Marcela ficou muito animada quando contamos para ela que, entre tantas vantagens trazidas pela digitalização do sinal de TV, está a possibilidade de assistir à TV pelo celular ou mesmo pelo notebook – através de um receptor de TV em forma de pen drive, o que a deixaria independente da programação do seu marido. Outra coisa que deixou o casal surpreso foi o fato de saber que alguns tipos de conversores e televisores digitais têm a função de gravar programas.

Eles também não tinham ouvido falar ainda em audiodescrição na TV e disseram que seria muito bom se pudessem ter esse serviço em todos os programas. "Quando na novela passa aquele suspense, a gente fica se perguntando o que está acontecendo, pois não estamos vendo. Na propaganda da loja Ricardo Eletro, por exemplo, eles colocam a promoção de um celular, aí colocam um som de  suspense e não falam o preço, a gente fica sem saber  o valor do celular", reclamou Marcela.

Instalado o conversor na TV analógica do casal, o antenista explicou como funcionava o controle remoto e mostrou os canais disponíveis. Marcela não acreditou quando percebeu a diferença e, de pronto, fez alguns comentários: "Nossa, olha o tanto de canais!", "Não estou mais escutando o chiado!", "Pronto, Elvis, facinho! Que legal!". Ela só reclamou do fato de o controle remoto não possuir tradução em braile.

 Técnico ensina Marcela a manusear o controle da TV digital, ela precisou
usar a técnica de contar os botões, porque não há indicações em Braile.

Marcela: "O áudio é bem limpo, mais nítido, vale a pena ser digital".
"Nossa, ficou ótimo! A Globo ficou 100%. No início, eu pensava: " Mas para que isso dificultando a nossa vida?" Se fosse só a imagem boa, para nós não teria vantagem. E agora penso que vale a pena, tem muita diferença. É bom ser digital. O áudio fica melhor. Estou muito feliz, nossa, Deus, bom demais! E vou falar isso para muitas pessoas que não estão entendendo ainda, assim como eu não estava", disse Marcela.

Marcela e Elvis: "Vale a pena ser digital".

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